Os vários usos da I.A no mundo da música
- Soluções em Foco

- 13 de nov. de 2024
- 16 min de leitura
Atualizado: 14 de nov. de 2024
Por: Luis Filipe Pires, Eric Robert e Patrik Antunes.

Legenda: Capa do clipe de “Now And Then” no Youtube
A inteligência artificial segue sendo um dos assuntos mais discutidos no mundo atualmente, e não é à toa. Com a chegada de novos recursos como deepfake, clonagem de voz e clonagem de movimentos, surgiu também a questão musical. Hoje em dia, temos ferramentas que são utilizadas por músicos para facilitar o trabalho na parte teórica de harmonia, ritmo e melodia. Temos o poder de reviver artistas, construir solos de guitarra, linhas de baixo, batidas de percussão e ritmos de bateria apenas com o desenvolvimento da inteligência artificial.
O caso mais recente de inteligência artificial no mundo da música foi a música “Now And Then” dos Beatles, uma faixa inicialmente composta por John Lennon, mas trabalhada pelos ex-membros da banda Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. A história da faixa começou quando Yoko Ono, esposa de John Lennon, que morreu em dezembro de 1980, encontrou algumas fitas com músicas inacabadas do músico. Ela gentilmente cedeu as fitas a Paul McCartney nos anos 1990, e daí surgiu a ideia de tentar reviver parcialmente a banda, que havia se separado oficialmente em 1970 e teve o sonho de retorno enterrado quando um dos principais membros do grupo foi assassinado a tiros em frente ao prédio onde morava por Mark David Chapman. Lennon morreu aos 40 anos e deixou um legado que atravessa gerações. As fitas que Yoko presenteou ao ex-parceiro de John continham as músicas “Real Love”, “Free As A Bird” e “Now And Then”. No entanto, como esta última tinha ruídos e defeitos que dificultavam o trabalho, foi descartada. Eles chegaram a lançar “Real Love” e “Free As A Bird” no projeto Anthology de 1995, mas foi só em 2023 que o anúncio de que os Beatles lançariam uma nova música veio à tona. Paul McCartney e Ringo Starr decidiram finalizar a faixa, que havia sido descartada e até mesmo menosprezada pelo guitarrista George Harrison no século passado.
Harrison dizia que a canção feita por Lennon não era boa e sempre foi contra qualquer tipo de opinião positiva sobre essa faixa. Mesmo assim, ele chegou a gravar bases de violão para “Now And Then” antes que a música fosse descartada. George faleceu em 2001 e não pôde participar com os ex-colegas de banda da produção final da música, nem chegou a ouvir a canção finalizada. No entanto, a IA foi fundamental na produção desta faixa para recuperar a voz de John Lennon. George sempre foi contra trabalhar em “Now And Then” pelo simples motivo de que a voz de John estava muito prejudicada por ter sido gravada em um gravador de fitas em 1978. Em 1995, os Beatles desistiram de trabalhar nela, mas Paul McCartney nunca perdeu a vontade de lançar a faixa. Com o avanço da inteligência artificial, os membros restantes dos Beatles — Paul McCartney (ex-baixista do grupo) e Ringo Starr (ex-baterista do grupo) — decidiram se reunir com Giles Martin, filho de George Martin (ex-produtor dos Beatles), para produzir a canção, limpando a voz de Lennon com o auxílio de IA.
A música conta com os instrumentos básicos que apareciam nas antigas canções dos Beatles: guitarra, baixo e bateria. Contudo, para dar um ar de “final”, eles adicionaram uma orquestra de violinos e outros instrumentos, como ocorreu na faixa “A Day In The Life” (Lennon/McCartney), do álbum “Sgt. Pepper 's Lonely Hearts Club Band” de 1967, que também incluía uma orquestra no meio da música, atendendo ao desejo de John de causar uma sensação de fim do mundo. Curiosamente, a orquestra que gravou a última canção dos Beatles não sabia exatamente o que estava sendo solicitado; foram informados apenas que gravariam uma canção de Paul McCartney, mas só descobriram que participaram de uma música dos Beatles após o lançamento da faixa. Entre os músicos que participaram estava o brasileiro Matheus Maciel, que conta com orgulho sobre sua contribuição. As gravações foram intensas. Paul McCartney gravou os vocais, a guitarra solo e as linhas de baixo, enquanto Ringo Starr contribuiu com vocais de apoio e bateria. Para as linhas de baixo, Paul utilizou o mesmo baixo Hofner alemão de formato simétrico que usava desde 1963, seu principal instrumento até hoje em apresentações ao vivo. “Now And Then” também ganhou um videoclipe que reúne registros antigos dos Beatles e de John Lennon. Muitas pessoas achavam que iriam "ressuscitar" Lennon quando saiu a notícia de que os Beatles lançariam uma música com o auxílio de IA. Mas, depois que a faixa foi lançada, ficou a questão no ar: “Até onde a IA pode chegar dentro do mundo da música?”
Em 2023, tivemos o caso de “ressuscitarem” a cantora Elis Regina em um comercial da Volkswagen, onde ela aparece cantando dentro de um carro ao lado de outro veículo, Maria Rita, sua filha, também aparece cantando ao lado da mãe que perdeu quando tinha apenas quatro anos de idade.

ENCONTRO INÉDITO: Com a ajuda de inteligência artificial, Maria Rita pode cantar com sua mãe, Elis Regina - (Volkswagen/Divulgação)
Muitas pessoas criticaram a postura da família por permitir que a inteligência artificial “revivesse” Elis Regina em um comercial de carros. O comercial utilizou a técnica de “deepfake” para recriar a cantora. O “deepfake” consiste em usar um rosto base e adicionar outro rosto por cima, criando um “clone” da pessoa que se deseja recriar em vídeo. A música usada no comercial foi “Como Nossos Pais”, um clássico escrito por Belchior que fez muito sucesso na década de 1970 na voz de Elis Regina. Assim, não foi necessário usar técnicas de IA para a voz dela, já que a música já havia sido gravada por Elis. Esse comercial trouxe muitas discussões sobre ética e respeito ao legado dentro da inteligência artificial e as pessoas que já faleceram, muitos viram esse comercial feito pela Volkswagen como uma homenagem a memória da Elis e também uma forma de preservar o legado da cantora que faleceu em 1982. Ela é lembrada como uma das maiores cantoras do Brasil e sua técnica vocal atravessa gerações e até hoje é relembrada nas playlists que jovens montam nas plataformas digitais. Elis Regina também lançou uma canção inédita depois de seu falecimento, recentemente a família de Elis decidiu lançar a versão de “Para Lennon e Mccartney” (Márcio Borges/Fernando Brant/Lô Borges) lançada no disco “Milton” lançado originalmente em 1970 mas diferente dos Beatles, a canção não teve o auxílio de inteligência artificial. Mas também temos aplicativos que fazem com que pessoas consigam manipular músicas com IA sem ter muito entendimento sobre o assunto, exemplo disso é o app Moises que usa inteligência artificial para ajudar músicos e fãs de música a editar áudio de maneira fácil e rápida. Ele é mais conhecido por sua capacidade de separar diferentes elementos de uma música, como voz, guitarra, baixo e bateria, a partir de uma faixa completa. Isso é útil, por exemplo, para quem quer fazer um karaokê com uma versão instrumental, estudar uma parte específica da música ou até criar remixes. O que torna o Moises especial é justamente o uso de IA, que permite que ele realize essas separações com bastante precisão. Para isso, ele utiliza algoritmos de aprendizado de máquina, uma tecnologia que “treina” o sistema para reconhecer padrões de áudio, como os sons específicos de cada instrumento e a voz. Esses algoritmos analisam a música e conseguem identificar e dividir os elementos de uma forma que parece “entender” o que está ouvindo.

Legenda: Ícone do app “Moises”
Além da separação de faixas, o Moises oferece outras ferramentas úteis para quem trabalha com música. Entre elas, está a possibilidade de ajustar o tempo da música, ou seja, você pode deixá-la mais lenta ou mais rápida, o que é muito bom para praticar um instrumento acompanhando o ritmo que você escolhe. Outra função é o controle de tom, permitindo que a música seja tocada em uma tonalidade diferente sem alterar a qualidade da gravação, ideal para cantores que precisam de ajustes específicos. O aplicativo também consegue reduzir ruídos, melhorando a qualidade do áudio em gravações caseiras ou menos profissionais. Tudo isso pode ser feito direto no celular, sem a necessidade de equipamentos caros ou programas complicados. A grande vantagem do Moises é democratizar o acesso a essas tecnologias, que antes eram restritas a estúdios e profissionais com equipamentos sofisticados. Com ele, qualquer pessoa, seja iniciante ou experiente, pode ter acesso a ferramentas avançadas de edição de áudio, promovendo um espaço mais acessível para a criação e prática musical.
A inteligência artificial tem revolucionado o setor musical, mas traz preocupações e desafios. Um dos principais riscos é a criação de músicas sintéticas, onde IA gera composições semelhantes às de artistas humanos, ameaçando a originalidade e o trabalho criativo. Softwares podem replicar vozes, estilos e até melodias de artistas consagrados, resultando em cópias que, embora impressionantes, podem banalizar a arte. Outro perigo é a possibilidade de IA substituir compositores e músicos em diversas etapas de produção, levando à redução de oportunidades e empregos no setor. Além disso, a criação de músicas por IA levanta questões sobre direitos autorais e propriedade intelectual, já que algoritmos podem "aprender" a partir de músicas já existentes e gerar peças derivadas sem compensação justa aos criadores originais.
A IA também pode afetar a autenticidade emocional da música. Músicas feitas por IA podem não ter o mesmo impacto emocional que as criadas por seres humanos, pois falta-lhes o contexto e a profundidade de uma experiência humana. Assim, enquanto a IA oferece novas possibilidades, seu uso descontrolado e desregulado pode ameaçar a essência criativa da música e a sustentabilidade do setor artístico.
Segundo o pintor, escultor, poeta e dramaturgo espanhol, Pablo Picasso, “a arte elimina a dor da vida” . Dessa forma, o artista considerava que a arte estava interligada com o fato de ser produzida por humanos. Na sociedade contemporânea, essa realidade mudou: com o advento das novas tecnologias, a inteligência artificial (IA) tem aparecido no mundo da forma que muitos não poderiam imaginar, como na arte e até mesmo, na música. Um levantamento da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) revelou que, em 2024, cerca de 20% das músicas lançadas usaram alguma forma de IA. Assim, a tecnologia está se tornando não apenas uma ferramenta comum, mas quase obrigatória nas produções musicais. Com isso, surge o debate sobre o que isso significa para a autenticidade musical.
Um dos casos que mais chamou a atenção na mídia foi a colaboração do Julian Casablancas, da banda The Voidz em julho deste ano. Ele descreve a IA como uma “extensão criativa”, permitindo que ele explore novos sons e ideias e usou a tecnologia na capa de seu novo disco. No entanto, muitos fãs estão se perguntando: será que a música criada com algoritmos ainda tem a mesma profundidade emocional que a feita por um ser humano? Essa dúvida é compreensível, e reflete a preocupação de que, ao usar IA, a essência da música e sobretudo da arte, possa se perder.
Outro caso é do fenômeno “Pé de Chinesa”, uma novela fictícia criada em 2024, com a ajuda de IA. O caso viralizou através da rede social Tik Tok, onde os internautas criaram cenas falsas, um enredo e até mesmo, a trilha sonora da novela. Embora não seja uma obra apenas musical, o projeto levantou questões sobre a realidade e a ficção, mostrando como a tecnologia pode criar histórias tão cativantes que podem enganar o público, já que o assunto tomou tanta proporção que a suposta autora, Glória Perez, precisou se manifestar nas redes sociais.

imagem retirada do usuario @gagaIupus do X
Apesar de ser uma nova realidade curiosa, é assustador pensar que estamos nos aproximando de um ponto em que não sabemos distinguir o que é real e o que é gerado por máquinas, algo que se torna preocupação já que casos de deep fake podem se tornar comuns.
No campo dos direitos autorais, a situação é complicada. Nos Estados Unidos, o Escritório de Direitos Autorais tem sido rigoroso ao negar registros para obras criadas exclusivamente por IA, o que significa que ainda precisamos de uma intervenção humana para que algo seja considerado “autoral”. Isso levanta uma questão importante: como proteger criações que envolvem a tecnologia de maneira significativa? Enquanto isso, na Europa, a discussão gira em torno da criação de direitos autorais para obras que usam IA, tentando encontrar um meio-termo que funcione.
Um dos grandes desafios que a IA traz para a música é a homogeneização. As plataformas de streaming, ao usarem algoritmos, tendem a favorecer padrões que são populares, resultando em músicas que podem ser mais previsíveis e menos inovadoras. Há críticos que dizem que isso gera uma música “algorítmica”, onde o principal objetivo é agradar aos algoritmos em vez de buscar novas formas de expressão.
Por outro lado, a IA pode ser uma grande aliada para artistas independentes. Um estudo da OpenAI revelou que muitos músicos amadores acreditam que a tecnologia democratizou o acesso à criação musical, permitindo que qualquer um que tenha uma ideia possa produzir algo de qualidade. Para esses artistas, a IA não é uma ameaça, mas uma aliada.
Para grandes empresas, a IA também tem sido aliada: viralizou em 2024 o vídeo de internautas em grandes lojas de departamento como Riachuelo e Pernambucanas, mostrando que as empresas tocavam músicas geradas por inteligência artificial. O motivo? Os estabelecimentos não queriam pagar o ECAD, imposto destinado a utilização dessas músicas em grandes comércios.
Em suma, a relação entre inteligência artificial e música é complexa. Enquanto a tecnologia oferece novas oportunidades e desafios, é essencial que a sociedade continue a questionar seu impacto no que diz respeito à originalidade e na criatividade. Se o equilíbrio dessas forças for atingido, o futuro da música tem um grande potencial de sucesso.
Muito além de criar músicas, a inteligência artificial pode ser uma grande aliada para editar e até mesmo, restaurar, músicas já existentes, formuladas em uma época em que a tecnologia era mais escassa. Um exemplo recente é o uso de IA para restaurar gravações clássicas de jazz e blues, o que gerou discussões sobre direitos autorais. Embora a IA possa melhorar a qualidade sonora do conteúdo, as canções ainda estão sob a proteção de direitos. Nos EUA, a legislação atual não considera o uso da IA suficiente para um novo copyright, uma vez que a originalidade da gravação se mantém.
Nesse contexto, ferramentas como o iZotope RX são importantes. A série RX, que recentemente chegou à sua versão 9, utiliza algoritmos avançados de machine learning para reparar e melhorar arquivos de áudio danificados. Ela é amplamente utilizada por produtores musicais e na pós-produção de filmes em Hollywood. As funcionalidades incluem remoção de ruídos de fundo, restauração de frequências perdidas, correção de falhas de pitch, entre outras tarefas que tornam gravações antigas ou de baixa qualidade em conteúdos com qualidade profissional.
A crescente presença da inteligência artificial na indústria musical tem gerado debates intensos sobre sua ética e implicações. Dois episódios emblemáticos exemplificam as tensões atuais. A canção “Heart on My Sleeve”, que combina as vozes dos artistas Drake e The Weeknd e que foi rapidamente removida das plataformas de streaming pela Universal Music após se tornar viral no TikTok, e a tentativa de David Guetta em replicar a voz de Eminem através de IA. Este último caso foi divulgado como um experimento, sem intenção comercial, mas trouxe à tona questões sobre a autenticidade e o valor da música gerada por máquinas.
Esses incidentes levantam um questionamento crucial para a sociedade: até que ponto a música gerada por Inteligência Artificial pode enganar o ouvinte e, ao mesmo tempo, competir com as obras originais dos artistas? É de extrema importância refletir sobre como encontrar um equilíbrio entre aproveitar as possibilidades oferecidas pela tecnologia e preservar a originalidade e a identidade artística que definem as músicas. As ferramentas de Inteligência Artificial oferecem inovação, mas também desafiam as normas estabelecidas, exigindo uma discussão aprofundada sobre seus limites e impactos.
No âmbito jurídico, novos questionamentos entram em pauta. A atual Lei de Direitos Autorais no Brasil, conforme a Lei 9.610/98, protege exclusivamente obras criadas por indivíduos humanos. Assim, surge uma lacuna legal em relação às produções geradas por Inteligência Artificial. O questionamento mais forte que gira em torno dos precedentes legais seria de quem possui os direitos autorais sobre uma obra musical criada por uma máquina. E se essa música utiliza a voz de um artista falecido, como ocorreu no dueto entre Matuê e Chorão, quem detém a autoria?
Desde o caso emblemático do “The Next Rembrandt”, em 2016, onde um quadro foi gerado por uma inteligência artificial que aprendeu o estilo do artista holandês, Rembrandt, após ser treinado com dados das suas pinturas. Especialistas têm discutido várias abordagens para lidar com essas questões. Entre as propostas estão: considerar a obra gerada por IA como domínio público, atribuir os direitos à empresa que desenvolve a tecnologia, reconhecer o usuário como o titular dos direitos autorais ou até criar um novo modelo de Direito Conexo. Este último poderia garantir remuneração adequada a intérpretes e produtores envolvidos na criação e gravação de obras, mesmo que geradas por inteligência artificial.
Do ponto de vista do mercado musical, a questão se torna ainda mais complexa. O sistema de direitos autorais, tal como se apresenta, tem impactos diretos na arrecadação da indústria fonográfica. Especialmente em situações onde músicas geradas por inteligência artificial fazem imitações de artistas e composições preexistentes, os efeitos podem ser prejudiciais para os criadores originais. Diante desse cenário, os principais agentes da indústria musical estão se mobilizando para proteger seus interesses e assegurar uma remuneração justa pelo uso de suas criações.
Recentemente, ações como a remoção de milhares de faixas geradas por IA do Spotify demonstram essa preocupação. Além disso, o SAG-AFTRA, sindicato que representa autores e intérpretes de voz nos Estados Unidos, manifestou sua intenção de defender os direitos daqueles que dependem de suas vozes para viver, ressaltando a importância de proteger a integridade e a remuneração dos artistas em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia.
O assunto do uso de Inteligência Artificial no meio musical se tornou tão relevante que, atualmente, virou objeto de estudo. Em 2023, o estudante de Música da Universidade de São Paulo, Júlio Corrêa Barros Silva, se aprofundou no tema na realização do seu Trabalho de Conclusão de Curso. O discente, ao longo de seu trabalho, tem o objetivo de comparar uma composição musical feita por um estudante no final do curso com aquela realizada por uma ferramenta de Inteligência Artificial. Ao final do trabalho, Júlio Corrêa concluiu que embora a IA possa oferecer insights e inspirar a criatividade, suas produções geralmente carecem de complexidade e originalidade. O autor ainda enfatiza a necessidade de maior conhecimento tecnológico entre os músicos e sugere que instituições de ensino devem integrar mais a tecnologia em seus currículos. Além disso, ele discute a importância de debates éticos sobre o papel da Inteligência Artificial na sociedade e a ideia de que a capacidade humana de criar música, impulsionada por emoções e experiências, não pode ser substituída pela Inteligência Artificial. Em suma, a pesquisa aponta para a importância da interação entre arte e tecnologia, mas pontua que a verdadeira expressão artística permanece particularmente humana.
Mais um fato interessante a respeito do uso da Inteligência Artificial na produção de conteúdo musical, é a I.A que reproduz a voz de artistas existem diversos exemplos delas como a Sumo I.A utilizada na produção da fake novel “Pé de Chinesa” em que o criador Marlon Motta alegou que utilizou I.A em toda a criação, O “Samba do Dragão” nome como ficou conhecida a canção teve sua letra escrita pelo Chat GPT da OPEN AI e sua canção contou com a voz rouca de Seu Jorge reproduzida por Sumo I.A, a canção as imagens utilizadas a letra e demais coisas existentes no clipe do vídeo viral foram feitas com uso de Inteligência artificial isso demonstra como estas tecnologias tem facilitado a vida de diversos internautas ao redor do mundo e usuários de redes sociais também, outro caso parecido a respeito da produção musical com auxílio de Inteligência artificial foi o da musica “ela engana dizendo que” do cantor Thiago Veigh, em que na plataforma de vídeos Tik tok um usuário produziu um conteúdo do zero com letra feita por ele mesmo beat musical e um aplicativo que simula a voz de artistas e produziu a canção que viralizou de forma tamanha que o próprio rapper teve de se pronunciar a respeito da melodia, pois vários de seus fãs e ouvintes acreditavam que a canção realmente era dele, porém o próprio Veigh afirmou que não possuía conhecimento sobre esta musica e não entendia sobre as cobranças de lançamento realizadas por seus fãs, em entrevista ao Podcast Brasileiro “POD DELAS” da apresentadora Tata Estaniecki Cocielo, Veigh relatou sobre o caso com a seguinte fala “ Eu não possuía conhecimento algum sobre esta música, porém ela viralizou bastante no Tik tok quando fui ver ela tinha a minha voz e parecia muito com outras músicas que eu já tinha feito, tipo ela não fugia do padrão sabe, achei muito legal e pedi para entrarem em contato com o responsável pela produção para que possamos negociar valores e direitos para que eu possa cantar essa música, cara eu sinceramente gostei bastante da música”.
A produção musical tem se tornado muito mais fácil com a ajuda desses softwares de criação, pois o produtor pode criar beats direcionados para artistas diversos com letras aprimoradas por ele mesmo, publicar em plataformas e conseguir alcançar o artista desejado e negociar a venda de todo seu trabalho, desta forma é possível gerar uma renda interessante, mas uma das dúvidas recorrentes a respeito deste tipo de criação é sobre a Lei n°9610 de 1998 (Lei de Direitos autorais) a criação musical com ajuda de I.A possui um dono? Quem tem direitos sobre esta criação? O criador da Inteligência Artificial possui direitos sobre as criações de sua I.A?
Casos como estes têm sido abordados recentemente por diversos advogados, existem certas alegações de que a Inteligência Artificial não cria conteúdo do zero, mas sim se “inspira” ou até mesmo realiza cópias de conteúdos de outros criadores, em entrevista com o estudante universitário de música e músico local Ricardo, ele deu sua opinião a respeito das criações por Inteligência Artificial e ainda falou um pouco sobre esta questão de se a qualidade das músicas produzidas por Inteligência Artificial gera o mesmo impacto de uma canção produzida por um ser humano, seguem então as falas de Ricardo:
“Bom eu acredito que sim se bem trabalhada e com esforço do humano por trás é possível sim que o conteúdo produzido pela inteligência artificial consiga se encaixar no padrão de excelência de um músico, porém como eu já disse é algo que deve ser lapidado”.
Na plataforma de vídeos curtos conhecida como Tik Tok as músicas produzidas com ajuda de inteligência artificial tem gerado um grande engajamento, músicas como Formiguette, Tania Tamanduá e Lyoa tem tido milhões de visualizações nas plataformas, estes conteúdos foram parte de uma “trend” no Tik Tok porém o sucesso foi tamanho que o segmento e estilo das músicas criadas por I.A foram para plataformas exclusivas de música como Soundcloud e Spotify, além de músicas já conhecidas sendo interpretadas por outros artistas com a ajuda da Inteligência artificial, uma das músicas que voltaram aos fones dos fãs de Trap-rock foi a canção Morte do Autotune lançada em 2018 pelo artista Matue, a canção traz de uma forma melancólica a vida de um artista e a sua produção musical, a forma que depois de quase 6 anos voltar a viralizar foi em uma versão disponibilizada no tik tok com a voz do falecido vocalista da banda Charlie Brown Jr, Chorão, A música morte do autotune foi uma das escolhidas para serem interpretadas com a voz de Chorão pois atestam estilos parecidos com outras canções do gênero que eram cantadas pela banda de rock Charlie Brown Jr, como ”Zóio de Lula”, “Dias de Luta e Dias de Gloria” entre outras canções do grupo, apesar do falecimento do vocalista a banda ainda continua muito querida nas redes sociais, o guitarrista Marco Brito concedeu uma entrevista ao jornal uol e declarou a opinião dele a respeito do uso da voz de seu antigo colega de banda com caráter de imitação por I.A, Marco revela que Chorão talvez não aprovaria pois não gostava muito de certos conteúdos gerados pela tecnologia, porém o guitarrista não desaprovou por completo o uso de I.A para produção musical e categorizou estereótipo de produção como algo interessante para gerar entretenimento e ainda confessou que gosta bastante de acompanhar as evoluções.

(Foto: Acervo Pessoal de Marco Britto)
Brito comentou também a respeito da saudade dos fãs sobre o ídolo e deu sua opinião a respeito do assunto:
"Não acredito porque não é algo real, ainda fica muito robotizada e artificial, no futuro provavelmente teremos coisas realmente surpreendentes. Nada vai substituir a sensibilidade, o coração e alma de um ser humano”
Ele acredita que a I.A não é uma solução para o preenchimento de certas lacunas deixadas pela saudade, e é preciso reconhecer que a momentos que o interessante é deixar ir e aproveitar o que nos foi deixado, Brito também comentou a respeito do uso da voz de chorão nas canções de Matuê e credibilizou os responsáveis e disse que combina sim bastante e acredita que o “Ale” gostaria bastante das músicas do artista.
Por fim, casos de não aprovação de artistas a respeito do uso de Inteligência artificial não são casos isolados, as gravadoras Sony Music, Universal Music Group e também a Warner Records processaram as empresas de inteligência artificial (IA) Suno e Udio, por acusações de violação dos direitos autorais ao usar suas gravações para treinar sistemas de IA de geração de música.
As empresas de Inteligência artificial copiaram músicas sem permissão para ensinar seus sistemas a criarem músicas que poderiam bater de frente com autorias feitas por alguns artistas humanos, de acordo com processos federais movidos contra a Udio em Nova York e a Suno em Massachusetts.
“Nossa tecnologia é transformadora; foi projetada para gerar resultados completamente novos, não para memorizar e regurgitar conteúdo preexistente”, disse o presidente-executivo da Suno, Mikey Shulman.



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