Iniciativas brasileiras auxiliam no combate à desinformação e aos golpes contra idosos na internet
- Soluções em Foco

- 13 de nov. de 2024
- 15 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2024
A partir do crescimento no número de golpes e a disseminação de informações falsas no ambiente virtual, projetos promovem checagem de fatos e alfabetização digital
Por Alan Alves e Renan dos Santos

Você conhece alguém que já foi vítima de desinformação ou golpes? Sabia que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, em abril de 2024, cerca de 90% dos brasileiros admitiram ter confiado em informações falsas. E os golpes não ficam para trás: de acordo com uma pesquisa do Datafolha, em parceria com FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), mais de 4,5 mil pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros a cada hora no Brasil. Apesar disso, existem iniciativas que buscam auxiliar as pessoas no enfrentamento a esses desafios. Nesta reportagem, serão abordados os problemas em relação aos golpes e à desinformação, assim como o que está sendo feito para lidar com esses problemas. Continue conosco para mais informações!
Projetos que combatem a desinformação e golpes
Recentemente, houve um aumento na disseminação de informações falsas, assim como casos de golpes na internet. De acordo com um estudo do Poynter Institute em colaboração com o Google, em agosto de 2022, entre dez brasileiros, quatro receberam desinformação diariamente. A análise também revela que 43% dos brasileiros já compartilharam informações falsas acidentalmente. Os dados em questão não só contextualizam o cenário no qual as pessoas são bombardeadas por desinformação, como também mostram que o público nem sempre consegue verificar a veracidade de todas as informações que recebem.
Os golpes pela internet são categorizados como uma forma de violação que afeta diretamente o patrimônio das vítimas, sendo praticada no ambiente digital. Segundo uma análise realizada pelo TI Inside, em 2023, os golpes digitais no Brasil aumentaram em 35%, e as fraudes bancárias são as mais comuns, em que um dos meios usados era o uso de ligações ou links para obter dados sensíveis e permitir transações financeiras. Desta forma, cria-se um ambiente de insegurança, pois as pessoas que utilizam as tecnologias precisam se adaptar a essas novidades, e esse processo, muitas vezes, não ocorre da maneira correta. A melhor forma de promover a segurança nas redes é com informação de qualidade, e já existem iniciativas que buscam levar um aprendizado sobre o mundo digital às pessoas.
A desinformação vem crescendo, e sabe-se que essa propagação de informações falsas ocorre principalmente nas redes sociais. Em resposta a esse problema, surgiram as agências de fact-checking (ou checagem de fatos), mas o que é fact-checking? A princípio, é o ato de conferir se as informações apresentadas são verdadeiras, além de verificar se certos fatos não estão, de algum modo, distorcidos.
A checagem de fatos também busca analisar a fonte da informação e os dados referentes ao fato analisado. Portanto, as agências de fact-checking atuam com a verificação de informações que são compartilhadas pelos meios de comunicação. Em uma analogia, é como se essas agências fizessem um “pente fino” em notícias que estão nas redes.
Por meio da internet, as pessoas recebem um alto volume de informações diariamente, dificultando a diferenciação do que é confiável ou não, esse processo é chamado de infodemia. O termo faz referência, sobretudo, a uma grande quantidade de informações sobre assuntos específicos, e em meio a isso surgem informações duvidosas ou manipuladas. Neste cenário, outra possível solução é o letramento midiático ou alfabetização digital. De acordo com o guia feito pelo EducaMídia, o letramento midiático está ligado à construção de habilidades, que contemplem a escolha e a utilização dos dispositivos digitais, ou seja, se trata da aprendizagem sobre como usufruir das tecnologias de forma responsável. Assim, o letramento midiático atua diretamente na habilidade de analisar essas informações que são vistas em diferentes mídias, pois permite a compreensão das mensagens, mesmo que estas apresentem um formato diferente. Além disso, é possível garantir a construção do conhecimento para as pessoas consideradas mais vulneráveis, estimulando a análise dos conteúdos recebidos.
O letramento midiático também pode auxiliar na proteção contra os golpes. Grande parte dos golpes bancários realizados em 2023 ocorreram por meio de ligações ou links, e nesse cenário, as habilidades construídas pelo letramento podem ser fundamentais, permitindo que as vítimas analisem a situação previamente e evitem o crime.
Idosos no mundo digital: maior conectividade, maiores riscos

Nos últimos anos, os idosos passaram a ocupar cada vez mais os ambientes digitais. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) demonstra que, entre 2018 e 2021, o percentual de pessoas com mais de 60 anos no Brasil navegando na rede mundial de computadores cresceu de 68% para 97%. Os principais motivos para o acesso dessas pessoas à internet são: busca por notícias sobre assuntos diversos, manter contato com pessoas e obter informações sobre produtos e serviços. Os idosos usam a internet para acessar as redes sociais e fazer compras, principalmente.
Bruno Ferreira, doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) e coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta, explica o impacto crescente da tecnologia na vida das pessoas, especialmente dos idosos: “Na nossa sociedade, há alguns espaços já estabelecidos de diálogo sobre cultura digital e tecnologias com crianças e jovens, conhecimentos que já integram a educação básica. Os adultos acompanham essas transformações nas interações sociais e no ambiente de trabalho. Quanto aos idosos, muitos já estão inseridos no ambiente digital, mas ainda falta um espaço para eles refletirem e desenvolverem uma criticidade maior sobre os usos e apropriações que fazem dos serviços digitais”.
Em 2020, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou um estudo que demonstrou que 73,7% das informações falsas referentes a Covid-19 foram compartilhadas através do WhatsApp. A pesquisa também destaca que grande parte das informações falsas atribuíam créditos à Fiocruz. Considerando que as redes sociais são grandes atrativos aos idosos, e esse público não possui o pleno discernimento do que é falso ou verídico, destaca-se que os idosos estão mais propensos a serem manipulados pela desinformação, de modo a compartilhar as informações falsas.
As compras online também podem abrir espaço para vulnerabilidade aos golpes. Os idosos podem se deparar com anúncios falsos, e assim, comprar produtos que não existem de fato. O hábito de fazer compras pela internet também pode ser usado por criminosos que aplicam golpes referentes ao cartão de crédito. Muitas vezes, esses golpes atingem o emocional das vítimas, principalmente nos casos em que as pessoas não compreendem o que está ocorrendo, e nesse momento elas se tornam alvos fáceis das fraudes.
Desinformação e fraudes: o impacto digital sobre os idosos

A Revista Science Advance publicou em seu quinto volume, lançado em 2019, um estudo que investiga as eleições dos Estados Unidos de 2016 e a relação deste evento com a desinformação. O estudo destaca que grande parte das informações falsas foram publicadas por meio das redes sociais, sendo o Facebook a plataforma mais utilizada para essa finalidade. Além disso, foi registrado que pessoas acima de 65 anos compartilharam desinformação sete vezes mais do que os mais jovens.
Outro ponto importante é que parte do conteúdo desinformativo por vezes tenta se passar por um meio oficial, o que pode confundir as pessoas e facilitar o seu compartilhamento. Além disso, cria-se um cenário no qual o compartilhamento de notícias se torna mais frequente, pois cada vez mais os idosos acessam e acompanham perfis que propagam informações falsas.
Assim, um elemento que também contribui para a desinformação são as recomendações feitas pelos algoritmos das redes sociais, que tomam como base o conteúdo consumido pelos internautas e indicam outros que sejam semelhantes. Por meio disso, ao consumir um grande volume de informações falsas, é possível que elas sejam cada vez mais recomendadas para o próprio usuário.
A presença de desinformação nas redes sociais se mostra um problema sério, e que carece de muita atenção, pois são plataformas pelas quais muitas pessoas recebem notícias. Neste cenário, Marta Alencar, jornalista especialista no tema da desinformação e Doutoranda em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), analisa a atuação das empresas tecnológicas – as chamadas big techs –, no combate à desinformação na internet.

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E você, acredita que as plataformas de redes sociais estão fazendo o suficiente para proteger as pessoas da desinformação?
Sim, já é o suficiente!
Não, ainda precisamos de mais ações...
O público idoso tem se tornado um dos principais alvos de quadrilhas especializadas em crimes cibernéticos. Em 2024, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já registrou mais de 21 mil denúncias de fraudes digitais contra esse público. As mulheres representam a maioria das vítimas. Assim, é evidente que a vulnerabilidade deste grupo se agrava com o uso da tecnologia, já que muitos da terceira idade ainda não têm familiaridade com internet, smartphones e computadores. Os criminosos aproveitam essa falta de conhecimento para criar situações que parecem legítimas, como quando alguém se passa por um "funcionário" do INSS para confirmar dados pessoais.
Além disso, muitos idosos recebem benefícios consignáveis, como aposentadoria ou pensão, o que os torna alvos mais comuns, já que têm o direito de contratar empréstimos consignados. Os golpistas, então, buscam oficializar contratações fraudulentas em nome dessas vítimas.
No vídeo abaixo, apresentamos as fraudes mais comuns e como evitá-las. Veja!
Em 2023, o Ministério das Comunicações, em parceria com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), também lançou uma cartilha voltada especialmente para a segurança contra fraudes digitais. Para acessar o material, clique aqui.
A insegurança de uma vítima de golpe digital
Uma mulher de 46 anos, que preferiu não se identificar, relatou que foi enganada pelo golpe da “falsa central telefônica”. Criminosos se passaram por funcionários do banco e ligaram sob o pretexto de confirmar uma compra suspeita feita com cartão virtual. Segundo a vítima, o golpe foi executado com uma “estrutura perfeita”: uma mulher fez o contato inicial e, em seguida, transferiu a chamada para um segundo integrante, que, de maneira profissional, pediu informações pessoais alegando ser necessário para bloquear sua conta.
A vítima relata que passou a senha do aplicativo bancário para os golpistas, que utilizaram as informações para realizar transações em seu nome. Ao perceber que sofreu uma tentativa de golpe, ela registrou o boletim de ocorrência pela internet, mas desabafou sobre a ineficácia do processo: “Fazer o BO não adiantou nada, talvez sirva só para estatística”, lamentou. Ela também procurou a agência bancária, mas nenhuma providência adicional pôde ser tomada.
Além das perdas financeiras, que preferiu não detalhar, a vítima relatou que o impacto psicológico foi profundo: “Me senti burra, idiota. Até hoje, lembrar disso me faz mal”. O episódio também transformou a relação da vítima com a tecnologia. Agora, evita atender chamadas de números desconhecidos e tomou precauções como impedir que o filho instale jogos no celular, pelo qual acessa o aplicativo bancário.
Apostas online: um novo risco à espreita
O mercado de apostas online, conhecido como "bets", é outra atividade que tem crescido rapidamente no Brasil. Segundo uma análise técnica do Banco Central, em 2024, os brasileiros chegaram a gastar 21 bilhões de reais em apostas pela internet. De janeiro a agosto, estima-se que aproximadamente 24 milhões de brasileiros realizaram ao menos uma transferência via Pix para empresas de apostas esportivas e jogos de azar.
Em relação ao perfil dos apostadores, a maioria está entre 20 e 30 anos, embora pessoas de diferentes idades também participem das apostas. O valor médio gasto por mês cresce com a idade: enquanto os mais jovens gastam cerca de R$ 100 mensais, pessoas mais velhas chegam a gastar mais de R$ 3 mil por mês. Um dado preocupante é que aproximadamente cinco milhões de apostadores são de famílias beneficiárias do Bolsa Família, que enviaram R$ 3 bilhões às empresas de apostas. Entre essas pessoas, 70% são chefes de família, responsáveis pelo recebimento do benefício.

No início de outubro, o Ministério da Fazenda atualizou o projeto de regulamentação das bets no Brasil. Foi concedida autorização a 213 sites de jogos e apostas a operarem no mercado brasileiro. Em paralelo, outros 26 sites receberam o aval de governos locais para operarem em âmbito estadual. Em relação às bets irregulares, a Fazenda elaborou uma lista com 2.040 empresas não autorizadas a operar no país. O bloqueio dessas plataformas começou a partir do dia 11 de outubro.
O que já foi feito em relação aos crimes cibernéticos?
A legislação brasileira oferece suporte às vítimas de crimes cibernéticos por meio da Lei nº 14.155, sancionada em 2021. Essa lei prevê penas de quatro a oito anos para crimes de fraude eletrônica, e em casos de estelionato contra idosos ou pessoas vulneráveis, a pena pode ser aumentada em até o dobro, ação que reforça a proteção aos grupos mais suscetíveis a golpes.
Outra medida adotada pelo governo brasileiro é o programa Disque 100, que tem o objetivo de receber e encaminhar denúncias de violações de direitos humanos, especialmente de grupos em situação de vulnerabilidade. Estabelecido pelo Decreto nº 10.174, de 2019, o serviço funciona como um "pronto-socorro" dos direitos humanos, acionando órgãos competentes para responder a violações que estão em curso ou que acabaram de ocorrer.
Além de receber denúncias, o Disque 100 também dissemina informações sobre programas e serviços de proteção a direitos em âmbito nacional. As denúncias podem ser feitas gratuitamente, de qualquer lugar do Brasil, e o serviço opera 24 horas por dia, atendendo casos que envolvem crianças, idosos, pessoas com deficiência, a comunidade LGBTQIAPN+, entre outros grupos.
Os direitos humanos frente às violações contra idosos

Apesar dos avanços significativos nas políticas de combate a crimes cibernéticos e nas medidas de proteção a grupos vulneráveis, a crescente sofisticação das estratégias de desinformação e golpes digitais exige um complemento além da legislação. Assim, iniciativas de checagem de fatos e educação midiática tornaram-se indispensáveis para orientar a população a identificar e evitar armadilhas digitais, fortalecendo a segurança e a cidadania digital de maneira ativa e preventiva. A seguir, você confere os projetos que apresentam caminhos para proteger as pessoas no ambiente digital.
Checagem de fatos: A linha de frente contra a desinformação
Diante do crescimento da propagação de desinformação, o trabalho realizado por agências de checagem de fatos se mostra cada vez mais importante. É o caso do Projeto Comprova, criado em 2018, através de uma iniciativa do First Draft e Shorenstein Center, e coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O Comprova é uma iniciativa central para a publicação de informações que passaram por verificações feitas por diversos veículos de comunicação. Os jornalistas envolvidos no projeto buscam apurar informações que estão circulando na internet, de forma que sejam explicitados os conteúdos que são falsos, enganosos, ou descontextualizados.
Outra iniciativa que contribui para a checagem de fatos é o projeto COAR, que foi fundado por Marta Alencar em 2020. Desde então, a rede de notícias age contra a desinformação, com atuação no âmbito regional, principalmente em regiões do norte e nordeste do Brasil, onde há os chamados “desertos de notícias”. Esta designação se refere a cidades que não possuem veículos de imprensa locais, o que dificulta o acesso à informação de qualidade pelos moradores dessas regiões. De acordo com Alencar, nos desertos de notícias, é mais fácil que a desinformação se espalhe, pois não há veículos que produzem notícias, e menos ainda veículos que fazem a filtragem dos conteúdos jornalísticos. Deste modo, nota-se a importância de projetos como o COAR.
No contexto da regionalidade, Alencar ainda ressalta a importância de utilizar uma linguagem acessível para abordar o tema da desinformação, de modo que o conteúdo alcance pessoas de diferentes contextos e realidades. Para essa finalidade, o COAR se apoia no desenvolvimento de materiais com a linguagem diversificada, como "Arriégua - ói as Fake News" e "Ê caroço as fake news", contrapondo a formalidade característica dos veículos jornalísticos.
Em relação ao contato dos idosos com a internet, Alencar explica que pessoas com mais de 60 anos nem sempre compreendem totalmente o funcionamento das tecnologias, ou podem estar limitadas a certos meios de comunicação, como o WhatsApp, desconhecendo assim sites jornalísticos, ou que combatem a desinformação, o que contribui para a vulnerabilidade dessa parcela da sociedade às informações falsas. Ela também destaca as diferenças entre a desinformação que é propagada entre os jovens e idosos. No primeiro grupo, as informações falsas estão mais voltadas à política, educação e tecnologia, já nos grupos com maior faixa etária a desinformação pode ser climática, – isto é, informações falsas sobre as mudanças climáticas ou emissão de combustíveis fósseis –, e em relação à saúde, uma área com a qual os idosos têm maior contato no cotidiano.
A jornalista também explica que o letramento midiático pode ajudar as agências de fact-checking a alcançar melhor o público idoso:
“Eu acredito no letramento midiático. Porquê essas pessoas, primeiro, desconhecem como funcionam as redes sociais. Então, se elas entenderem como funcionam certos sistemas, vão compreender a diferença entre o que é a desinformação na internet e como elas podem utilizar essas ferramentas tecnológicas, aplicativos de mensagem, como o WhatsApp, ou outras redes sociais sem caírem em informações falsas. Eu sempre falo que é o desconhecimento que faz com que essas pessoas fiquem mais vulneráveis. As iniciativas de fact-checking devem investir mais no letramento midiático. Justamente para explicar, primeiramente, como funciona o meio de comunicação? O que é uma notícia? O que é desinformação? Isso junto a uma linguagem acessível e, quem sabe, também utilizando pessoas com 60 anos ou mais para falar sobre o tema”.
Além disso, diante da capacidade de adaptação das estratégias de desinformação no ambiente virtual, Alencar reafirma que o letramento midiático, aliado a parcerias, é uma forma eficaz de enfrentar esse desafio. Ela explica que o COAR tem feito parcerias com escolas e universidades, e com a Defesa Civil. O projeto também tem ministrado palestras pelo Brasil, e em uma de suas iniciativas recentes, realizou uma parceria com 200 rádios para enviar mensagens de voz, que também serão passadas pelo WhatsApp, Facebook e Instagram. Desta forma, informações apuradas e confiáveis podem atingir um maior número de pessoas.
A polarização política também é um problema alarmante, conforme explica a jornalista:
“Isso que, de certa maneira, me preocupa. Porque essa polarização só divide. Ela só estagna, não transmite conhecimento. Ao contrário, ela transmite desconhecimento e desinformação. Então, a gente também observa que essa polarização está muito ligada a essas bolhas ideológicas nas plataformas, e que isso contribui para os ruídos informacionais que a gente observa no cenário político do Brasil. Como evitar ou tentar amenizar isso? Eu acredito que a gente precisa trabalhar muito no Brasil com o letramento midiático, porque é muito complicado convencer uma pessoa que tem uma convicção política e cultural muito arraigada, a simplesmente se desvincular daquilo”.
A jornalista também indica dois livros para compreender melhor o cenário da desinformação. Os livros são “A Construção Intencional da Ignorância: o Mercado das Informações Falsas” (2020) de Ana Regina Rêgo e Marialva Barbosa, e “Fake News: quando mentiras viram fatos políticos” (2021) de Tatiana Dourado.
Por fim, Alencar recomenda recursos para idosos, ou outras pessoas que busquem verificar se as informações recebidas são verdadeiras.

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Educação Midiática: capacitação digital para a terceira idade
Em um mundo no qual a tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas, a educação midiática se torna um elemento fundamental para a adaptação a esse novo ambiente. Para chegar a esse objetivo, alguns projetos foram desenvolvidos nos últimos anos, como a Estratégia Brasileira de Educação Midiática, da Secretaria de Comunicação Social do governo federal, e o EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta. Essas iniciativas são voltadas para o desenvolvimento de materiais que promovam a alfabetização digital para públicos de diversas faixas etárias.
De forma especializada, o programa EducaMídia 60+ foi criado em 2021 como uma iniciativa para capacitar pessoas com mais de 60 anos no uso crítico e consciente das mídias. Desenvolvido com apoio da organização filantrópica do Google, o programa tem como objetivo ampliar o letramento midiático desse público, orientando os idosos para que interpretem, produzam e compartilhem informações de maneira responsável. A proposta busca, por meio de materiais escritos (como cartilhas e guias) e audiovisuais, preparar a terceira idade para atuar de forma ativa e reflexiva no ambiente digital, fortalecendo sua participação na sociedade conectada.
Ferreira explica que os materiais voltados para a proteção contra golpes foram desenvolvidos especialmente para o programa EducaMídia 60+:

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Uma questão importante em relação a projetos de educação voltados a públicos específicos é se os materiais podem ser utilizados em palestras e oficinas para esse público-alvo. Assim, Ferreira destaca que os conteúdos produzidos pelo EducaMídia 60+ são de livre acesso, permitindo seu uso não só pelo público idoso diretamente, mas em atividades educativas promovidas por profissionais.

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O coordenador pedagógico pontua que é um desafio manter o programa EducaMídia 60+ atualizado, pois as estratégias para propagação de desinformação e aplicação de golpes mudam rapidamente. Contudo, segundo Ferreira, o projeto se apoia nos relatos e experiências dos idosos para que os materiais disponibilizados sejam adaptados da forma mais eficaz possível.
Por fim, de acordo com Ferreira, é importante que sejam fomentadas mais iniciativas que trabalhem com o público idoso:
"Seria muito interessante se mais instituições que já atuam com o público idoso abrissem frentes voltadas à educação e inclusão digital. Organizações nas áreas de saúde, assistência social e cultura poderiam contribuir, contando com editais de financiamento público ou de entidades internacionais que apoiem iniciativas de inclusão digital para essa faixa etária. Não é uma questão de falta de interesse, mas de incentivo e recursos que permitam garantir o direito à educação midiática dos idosos".
Entre as parcerias do EducaMídia 60+ está o programa USP 60+, que oferece aos idosos a oportunidade de participar de atividades culturais e cursos regulares sobre diversas temáticas – incluindo a tecnologia –, na Universidade de São Paulo, promovendo inclusão social e educação continuada para esse público.
De modo geral, os projetos apresentados ao longo desta reportagem destacam a importância de capacitar o público idoso, garantindo que possam navegar pela internet de forma segura e crítica, prevenindo-se contra a manipulação feita no ambiente digital por meio de desinformação e golpes. No entanto, essas iniciativas são valiosas para pessoas de todas as idades, já que as tecnologias mudam constantemente, exigindo a adaptação de todos que buscam um uso mais seguro da internet. Em um cenário digital em constante transformação, aprender e se atualizar nunca foi tão essencial.
Nota: nesta reportagem, optamos pelo uso do termo "informações falsas" em vez de “fake news” ou "notícias falsas". A razão para isso está no entendimento de que uma notícia deve ser construída sobre fatos verídicos e devidamente verificados. Portanto, se um conteúdo é "fake" ou falso, não é uma notícia. Assim, "informações falsas" é o termo mais preciso e alinhado às normas jornalísticas, pois descreve corretamente conteúdos que circulam com a intenção de enganar, mas que não possuem os critérios necessários para serem classificados como notícias.
Política de uso: Esta reportagem está sob a licença Creative Commons 3.0 de Atribuição sem Derivações (CC BY-ND). Deste modo, a reprodução de texto, fotografias e outros conteúdos é livre, desde que o trabalho seja compartilhado sem alterações no seu todo e que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Soluções em Foco.



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