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O papel da comunicação digital no conflito Israel - Hamas

Como o Jornalismo de Soluções pode promover narrativas de paz e resistir à desinformação


Por Isabela Gadia e Riquelmy Menezes


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(Imagem gerada por Inteligência Artificial)

Em um pedaço de terra onde o tempo parece fluir em um ritmo próprio, a história se confunde com as lembranças de quem vive o presente. O conflito entre israelenses e palestinos remonta a disputas antigas por identidade, território e segurança, mas hoje, ele transcende as fronteiras físicas e se espalha por telas ao redor do mundo. Desde a criação do Estado de Israel em 1948, o Oriente Médio é palco de um embate que é, ao mesmo tempo, político e humanitário: um estado reconhecido compartilha seus sonhos de soberania, enquanto o outro busca o direito de existir e prosperar em paz.


A tensão entre ambos é alimentada por ciclos de violência e desconfiança que se renovam a cada geração. Em cada negociação de paz fracassada ou avanço bélico, vidas são interrompidas, famílias separadas e comunidades inteiras são obrigadas a viver em meio a restrições severas de movimento, recursos e até esperança. Para o mundo, o conflito se traduz em um jogo de poder e interesses entre governos, alianças estratégicas, influências externas e intervenções que, muitas vezes, priorizam políticas globais em detrimento da vida e dos direitos humanos na região.


Sobretudo, com o avanço da tecnologia, o campo de batalha agora também é digital. Se antes os jornais e noticiários internacionais eram os únicos intermediários entre o conflito e o mundo, hoje as mídias digitais permitem que as histórias se espalhem a uma velocidade incontrolável. Relatos de testemunhas oculares, vídeos de resistência e indignação popular e até mesmo perfis de representantes governamentais encontram nas redes sociais um palco de grande alcance. E, neste cenário, a narrativa se torna mais fragmentada e polarizada: a distância entre o que é verdade e o que é propaganda diminui. Desinformação circula com facilidade, inflamando opiniões e solidificando percepções de “certo” e “errado” que nem sempre refletem as complexidades do conflito.


Então, como transformar essa maré de informações em um canal de compreensão e empatia? Existe a possibilidade de exploração do potencial da comunicação digital para construir, e não apenas fragmentar? É possível que as narrativas de paz encontrem espaço e voz na dissonância digital?


O papel das mídias no conflito


No meio de um caos que resulta no luto de diversas famílias no Oriente Médio, outro caos permeia as telas dos aparelhos eletrônicos no Ocidente, refletindo a maneira como milhares de perdas são informadas pelo mundo, resumindo-as em números diários de uma guerra que, para muitos desses usuários, é até “justificada”. Em todos os anos do conflito israelo-palestino, ou seja, desde a década de 1960, nunca foi tão fácil ter acesso em tempo real às atualizações do que ocorre do outro lado do mundo. Afinal, a guerra acompanha o desenvolvimento tecnológico, de modo em que, se torna mais fácil também encontrar informações deturpadas.


O cenário atual, no qual as mídias se encontram inseridas em meio a uma guerra, revela um descontrole que resulta na grande disseminação de informações falsas. Nunca foi tão comum ler apenas o título de um artigo em um veículo oficial e, a partir dele, extrair algo conveniente para se posicionar em um dos lados do conflito. Ou até mesmo, consumir uma manchete sensacionalista que oferece a confiança necessária para acreditar que não é preciso ler a matéria completa. Não apenas no contexto desastroso em que se encontra o Oriente Médio, mas em qualquer situação em que vidas são tiradas, ocultar a verdade pode resultar em mais perdas. O ideal é que os portais de notícias se certifiquem da veracidade dos fatos antes de transmiti-los à população.



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Em uma visão macro, as idealizações por trás da dinâmica do compartilhamento de informações parecem utópicas, o relatório sobre desinformação do NewsGuard pode servir como exemplo: dados afirmam que 74% dos conteúdos desinformativos virais sobre a guerra entre Israel e Hamas no Twitter (ou X) foi produzido por usuários verificados, pagantes do serviço Blue. O documento também apontou que o mecanismo das Notas da Comunidade, que a plataforma argumenta ser eficiente para conter desinformação, não consegue desmascarar a maioria das informações falsas que circulam na rede. Uma delas, somando mais de 360 mil seguidores, conseguiu alcançar quase 3 milhões de visualizações com informações infundadas, como a de que altos funcionários israelenses tinham sido capturados pelo Hamas. De acordo com o NewsGuard, o perfil havia sido banido do Twitter, em 2022, por razões desconhecidas, mas foi restabelecido depois que Elon Musk adquiriu a plataforma de micromensagens. Ainda temos exemplos mais alarmantes, no qual a imprensa expõe escândalos sobre outros canais influentes de notícias. O SkyNews, veículo britânico de notícias, passou por uma dessas análises, em como foram construídas narrativas sobre o conflito e a ligação com políticos europeus e canadenses usaram-o de base para determinar antisemitismo, sem qualquer outro contexto ou respaldo. Assim, torna-se evidente que há uma resistência a mobilizações voltadas para mudar a forma como os fatos são apresentados e como se tornam, indiretamente, responsáveis pela forma em que isso se perpetua.


Mas afinal, quais são os resultados disso, e como essa realidade influencia e se manifesta como um potencial problema de comunicação que resulta na forma em que essa guerra se apresenta? A resposta é simples: a internet não é a responsável pelo conflito, nem muito menos pelas ações dos Estados, mas a forma como a informação é enquadrada influencia diretamente a maneira como a sociedade lida com a situação. Em termos de framing, as narrativas são construídas para moldar a percepção pública, sugerindo que uma nação está simplesmente "lutando pelo seu reconhecimento e pela expansão de suas fronteiras". Ao enfatizar a ameaça à soberania ou a luta pela justiça, o frame escolhido convida o público a adotar uma postura de defesa ou de lealdade a um "lado", obscurecendo intencionalmente os aspectos críticos de ações específicas, como a explosão proposital de um hospital na faixa de Gaza. Dessa forma, o framing cria alianças imaginárias e molda a opinião pública, apresentando conflitos em termos de "herois" e "inimigos", o que reforça divisões sociais e impede uma visão mais objetiva do conflito.


Desafios e limitações do jornalismo de soluções no conflito


O jornalismo de soluções, que busca ir além das tragédias para destacar histórias de resiliência e propostas de mudança, enfrenta desafios únicos em uma região tão complexa como a Faixa de Gaza e os territórios que a circundam. À primeira vista, parece uma abordagem ideal para cobrir o conflito: em meio à violência, há pessoas que cultivam esforços de paz, ONGs que reúnem famílias de ambos os lados e projetos que promovem diálogo entre jovens. Mas, na prática, esses relatos enfrentam barreiras invisíveis que dificultam sua difusão e impacto.


Para jornalistas locais, a realidade é muitas vezes dominada por urgências, que deixam pouco espaço para narrativas de soluções, dessa forma, os repórteres palestinos e israelenses raramente têm o privilégio de investigar projetos de paz, pois a própria sobrevivência diária é uma luta constante. Além disso, o próprio público está condicionado a receber notícias de forma polarizada, o que cria resistência para histórias que buscam enxergar a situação de maneira mais complexa e empática. Em um ambiente onde cada lado já está predisposto a ver o outro como inimigo, o simples ato de tentar apresentar narrativas colaborativas pode ser visto como traição ou ingenuidade.


Em relação ao público internacional, o desafio é mantê-lo engajado em temas que fogem do ciclo típico de violência e tensão. Muitos leitores e espectadores já estão saturados de notícias sobre o conflito, e histórias de soluções frequentemente são ignoradas por parecerem "leves demais" ou distantes da gravidade da situação. Paradoxalmente, a narrativa de tragédia cativa mais do que a de solução, criando um ciclo em que a mídia internacional tende a priorizar as histórias de guerra e catástrofes em vez dos pequenos passos para a paz. É de suma importância compreendermos a necessidade de notícias que mostram os horrores da guerra e suas injustiças, entretanto, deve-se recordar também dos pequenos gestos de esforço, em sua grande maioria independentes, que esperançosamente procuram encontrar formas de elucidar o público e causar impacto positivo em meio ao terror bélico.

 

Para a Profa. Dra. Rashmi Singh, pesquisadora em contato com conflito há mais de duas décadas, a mídia tradicional tem uma tendência a criar e controlar qualquer conflito existente no mundo e afirma: “a diferença, hoje em dia, é a mídia social. Pela primeira vez, contamos com uma narrativa que pode oferecer outra visão que pode até bater de frente com a construída pela mídia tradicional.” A mídia social citada pela professora trata-se de organizações independentes e, principalmente, civis preocupados com a consciência global sobre o que realmente ocorre em Gaza: “o povo, uma nova geração está engajada e está usando as redes sociais para compartilhar informações. É importante lembrar que eles estão enfrentando, batendo de frente com um sistema de desinformação que existe há 70 anos, com bilhões de dólares em investimento. Eles estão, sozinhos, desconstruindo esse sistema.” 


Infelizmente, essas organizações independentes sofrem com a falta de apoio institucional, que limita o alcance do jornalismo de soluções na região. Financiadores de projetos de mídia tendem a apoiar a cobertura tradicional, com foco em segurança e política, raramente oferecendo subsídios a projetos que promovam a aproximação e a paz. Para veículos locais, cujos recursos já são escassos, investir em reportagens de longo prazo que desvendem iniciativas de cooperação acaba sendo uma aposta arriscada, que pode não gerar retorno imediato em uma audiência já sobrecarregada emocionalmente.


Mesmo com esses desafios, os jornalistas perseveram e acreditam que as histórias de soluções podem, a longo prazo, humanizar o conflito e oferecer uma perspectiva que transcenda o ódio e a vingança. No entanto, para o jornalismo de soluções realmente florescer na região, será necessário reestruturar a relação entre os meios de comunicação e o público, promovendo uma abertura para ouvir histórias que nem sempre cabem nas manchetes rápidas, mas que trazem esperança em um terreno onde ela é constantemente sufocada.


O Jornalismo de Soluções como alternativa ao sensacionalismo


O cenário de guerra é desastroso por si só. O trabalho do jornalista que está presente na linha de frente nem sempre é valorizado, passando despercebido o fato de que o profissional possa estar colocando sua própria vida em risco. Existe um esforço muito grande envolvido no trabalho de comunicar, principalmente nesse contexto em específico. Rashmi comenta sobre essa dificuldade: “Precisamos falar sobre os jornalistas dentro da Faixa de Gaza, nunca vimos um conflito, uma situação, uma guerra, onde tantos jornalistas foram mortos. E eles sabem que passam por perigo. Devemos falar também sobre os jornalistas civis, que usam suas próprias ferramentas para compartilhar o que está acontecendo em Gaza. Eles, em minha opinião, são muito mais honestos, muito mais reais em compartilhar a realidade do que a mídia tradicional.”


Em meio aos mais diversos conflitos enfrentados pela sociedade moderna, os meios de comunicação passam a transmitir informações de forma em que contribuem indiretamente para permear o problema, tornando-se, também, um problema. O jornalismo informa, mas para além disso, ele também é uma prática social, e pode ser utilizado como ferramenta para trazer respostas para esses problemas. No contexto do conflito Israel-Hamas, o Jornalismo de Soluções pode utilizar do mesmo caráter informativo, mas buscando combater a disseminação de informações falsas.


Usufruir da tecnologia pode ser um dos primeiros passos para aplicar possíveis métodos de auxílio para comunicação pode resistir a desinformação. Já existem vários canais que buscam aplicar possíveis soluções ao falarem de assuntos como política internacional, como por exemplo o podcast brasileiro Xadrez Verbal, que não necessariamente possui esse emprego de disseminar informações falsas a respeito do conflito, mas que consegue falar sobre ele com uma apuração melhor que muitos veículos de comunicação midiáticos. Além disso, ferramentas de inteligência artificial também podem ser utilizadas como assistentes de curadoria de notícias.


Projetos que constroem a paz


Em meio ao longo conflito entre Israel e Palestina, práticas inovadoras surgem como sinal de esperança, buscando construir pontes em que, muitas vezes, só se veem muros. Organizações como Hand in Hand Schools, The Parents Circle e Tech 2 Peace estão tentando criar um espaço melhor. Essas iniciativas não só ajudam a reduzir o impacto do conflito, mas também ressaltam a importância da paz.


A rede de escolas Hand in Hand é uma prova de que a paz começa desde cedo, nas salas de aula. Em Israel, onde a convivência entre judeus e árabes muitas vezes se limita a espaços segregados, essas escolas bilíngues oferecem uma alternativa. As crianças judias e árabes frequentam a escola lado a lado, aprendendo desde o início a respeitar e a compreender as suas histórias e culturas. Elas são alfabetizadas em hebraico e árabe, discutem temas sociais e aprendem sobre ambas as culturas sem segregação.


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Professora ensinando na escola Hand in Hand (Imagem: Site Hand in Hand)

Essas escolas enfrentam resistências, mas seu impacto vai além dos alunos. Pais e comunidades são convidados a se envolver e a abraçar a diversidade, tornando-se exemplos vivos de coexistência pacífica. A lista de apoiadores é longa, e já receberam visitas de figuras de importância como o Papa e o antigo presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama e sua esposa e ex - advogada Michelle Obama. Hoje, a rede já conta com várias escolas pelo país, atendendo mais de dois mil estudantes.Outra iniciativa que toca fundo na realidade humana do conflito é o The Parents Circle – Families Forum. Esta organização é composta por israelenses e palestinos que perderam familiares para a violência, mas que escolheram o caminho do perdão e da paz. Em vez de alimentar o ciclo de ódio, esses pais, irmãos e filhos se reúnem para compartilhar suas histórias e mostrar que, apesar das perdas devastadoras, a reconciliação é possível.


The Parallel Narrative Experience


O grupo promove workshops, palestras e eventos que buscam sensibilizar ambos os lados para a dor e as esperanças que compartilham. Embora o trabalho com a dor seja difícil, o impacto que o Parents Circle gera vai muito além das experiências individuais. Os participantes ajudam a fortalecer uma narrativa de paz e humanidade compartilhada, mostrando que há caminhos diferentes para lidar com o sofrimento e promovendo o diálogo em nível social.


O setor de tecnologia também tem se tornado um caminho para unir jovens das duas comunidades por meio do Tech 2 Peace. Essa iniciativa oferece espaços para que jovens israelenses e palestinos colaborem em startups e projetos de tecnologia, criando oportunidades que transcendem divisões políticas. Trabalhando juntos em equipes mistas, esses jovens desenvolvem habilidades e constroem relacionamentos profissionais e pessoais, além de contribuírem com soluções tecnológicas que podem ter impacto em suas comunidades.


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Participantes fazem criações nos seus computadores durante seminários na Tech2Peace em setembro de 2020 (Imagem por Micha Silverman no site da Tech2Peace)

Esses projetos tecnológicos enfrentam desafios, como restrições de movimentação para palestinos e limitações de recursos, mas causam um impacto significativo. A colaboração econômica e a construção de laços profissionais têm o poder de mudar mentalidades e oferecer um vislumbre de futuro compartilhado, em que as diferenças são vistas como oportunidades de inovação.


Essas iniciativas mostram que, mesmo em cenários de conflito prolongado, é possível plantar sementes de paz e transformar vidas. Hand in Hand, The Parents Circle e Tech 2 Peace têm em comum uma abordagem centrada nas pessoas e no poder de suas experiências e talentos. Esses projetos causam um impacto significativo, e apesar de promover um cenário ideal benéfico visando um futuro melhor para as nações, são pouco mencionados e repercutidos na mídia, que atualmente, prefere compartilhar informações falsas e contribuir com o sensacionalismo através da disseminação de informações falsas. 


A luta contra a desinformação: Papel das plataformas e mídias independentes


Quando a guerra se estende para o ambiente digital, no qual narrativas se multiplicam e a verdade se dilui, a desinformação circula com uma velocidade inquietante, inflamando opiniões. Em resposta, surgem iniciativas locais de fact-checking que trabalham incansavelmente para combater a propagação de notícias falsas. Organizações sustentam as tentativas de desfazer rumores e trazer clareza a uma população que, muitas vezes, têm as redes sociais como único canal de comunicação com o mundo externo. Ainda assim, esses grupos enfrentam constantes ameaças e desconfiança tanto de dentro quanto de fora, mas persistem, comprometidos em oferecer uma visão mais autêntica e menos manipulada.


Enquanto isso, grandes plataformas como Facebook, Twitter e TikTok se veem pressionadas a moderar o conteúdo explosivo que prolifera em seus sites, mas a execução dessa tarefa é repleta de lacunas. O conteúdo de grupos extremistas e de discursos inflamados frequentemente permanece visível, enquanto relatos locais e postagens pacifistas às vezes são removidos sem justificativa aparente. Para muitos, essa inconsistência revela uma moderação parcial, que tanto amplifica as divisões quanto negligencia as iniciativas de diálogo e paz. As plataformas estão no centro de um dilema: como garantir a liberdade de expressão sem deixar que a desinformação e o ódio se espalhem?


A professora Rashmi afirma não ter olhos positivos para o conflito, mas, mesmo assim acrescenta: “Estou estudando esse conflito há mais de 25 anos, estou muito surpresa com a mudança em perspectiva mundial. Até o momento, não tínhamos qualquer espaço para criticar Israel, eram muitas limitações sobre a maneira que podíamos falar sobre o conflito. Mas vimos claramente nesse ano que passou, a situação é totalmente diferente, nós podemos falar e desconstruir narrativas.” E também fala sobre a importância de diferenciarmos os judeus de sionistas: “Claramente há uma diferença entre judeus e sionistas, eu acredito que houve inclusive uma mudança dentro da comunidade judaica, que também contribui para uma mudança positiva nas novas narrativas construídas.”  


O crescente volume de notícias falsas e informações deturpadas sobre o conflito tem feito crescer iniciativas de fact-checking em ambos os lados. Organizações como a FakeReporter, de Israel, 7amleh - The Arab Center for the Advancement of Social Media, da Palestina e The International Fact-Checking Network (IFCN)  dedicam-se a rastrear a origem e a veracidade das informações. Esses grupos operam em uma arena complexa, onde vídeos manipulados, manchetes exageradas e imagens descontextualizadas são compartilhados milhões de vezes, contribuindo para radicalizar percepções e aprofundar o ódio.


FakeReporter é uma organização independente composta por uma equipe de voluntários que rastreia redes sociais em busca de desinformação e contas engajadas na promoção de violência ou discurso de ódio. Eles denunciam conteúdos enganosos e buscam expor narrativas propagandísticas que possam inflamar o conflito, priorizando a transparência e a clareza na disseminação de informações.


Já o trabalho do 7amleh foca em direitos digitais e liberdade de expressão, realiza monitoramento de conteúdos prejudiciais e desinformação sobre a população palestina. Além disso, oferece treinamento sobre segurança digital e atua em iniciativas de fact-checking, com o objetivo de reduzir a circulação de conteúdo que possa intensificar tensões entre as comunidades.


Por fim, mesmo que não seja específica do conflito, a IFCN trabalha com parceiros locais na região para garantir uma verificação de fatos rigorosa sobre a guerra. Organizações certificadas pelo IFCN, como Agence France-Presse (AFP) e Reuters, colaboram com jornalistas locais para monitorar informações e combater notícias falsas com um olhar mais atento às nuances regionais.


Além disso, jornalistas locais e independentes enfrentam diariamente os desafios de uma cobertura equilibrada. Enquanto grandes veículos internacionais vão e vêm conforme a intensidade do conflito, esses profissionais documentam os acontecimentos sem cessar, muitas vezes arriscando a própria segurança para capturar a realidade. Seu objetivo é dar ao mundo um relato verdadeiro, sem filtros movidos por propagandas, das vidas impactadas pelo conflito. Essas vozes locais, combinadas com iniciativas de checagem de fatos, tentam combater a polarização e oferecer uma narrativa mais humana e completa da região. Com tanto em jogo, resta saber se o esforço de tantos poderá, algum dia, transformar o vasto e caótico cenário digital em um espaço de compreensão e coexistência.


A opinião da professora Rashmi sobre uma solução pacífica é clara, mas ela a considera utópica: “O caminho ideal para a paz é um Estado único para os dois lados. Os dois povos vão ter os mesmos direitos e leis. Mas não sei se hoje em dia isso é possível, em termos de dados, estou chocada com a resposta do povo israelense. Se fosse apenas o governo, tínhamos esperança, mas o povo ainda é muito conservador em relação a essa ideia.” Assim, finaliza: “Não posso ser otimista em termos de onde essa região está caminhando. É necessário uma espécie de pressão global, especialmente do norte, para vermos algum tipo de convivência e paz nesta região.”


Ao final de tantas histórias, há algo inegável: a comunicação, em suas formas mais cuidadosas e multifacetadas, possui o poder de abrir brechas em espaços onde o entendimento parecia impossível. Em Israel e Palestina, onde décadas de conflito deixaram um rastro de feridas abertas, a construção de uma paz duradoura não depende apenas de acordos diplomáticos, mas também da capacidade de falar e ouvir com genuína empatia. Cada relato e testemunho se torna, então, uma peça fundamental no mosaico da coexistência.


Aqueles que se arriscam a cobrir o conflito com nuances são, na verdade, mediadores invisíveis, costurando uma narrativa que não nega as dificuldades, mas também não deixa de lado as possibilidades. Nas mãos de jornalistas, comunicadores e organizações de fact-checking, as palavras e imagens se transformam em pontes que atravessam barreiras e desconfianças. Essa comunicação, alimentada por um compromisso ético e por uma persistente esperança, revela que, entre um disparo e outro, ainda existem histórias de solidariedade, lembranças compartilhadas e esperança de um futuro próspero. Em uma realidade marcada pelo medo, a comunicação emerge como uma ferramenta subestimada e poderosa, capaz de trazer aos poucos uma nova visão sobre o outro.


Talvez a paz seja, no fundo, uma coleção de pequenas compreensões, acumuladas dia após dia. Em uma região onde há tanto a ser reconstruído, essa coleção de relatos e conexões pode um dia se tornar a base para um futuro onde a comunicação sirva, enfim, como linguagem universal de entendimento e respeito.


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